sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Conhecimento que Vale!


Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos. Oseias 6.6

O ser humano está sempre em busca do conhecimento. A história nos mostra o quanto o homem tem se engajado na pesquisa em busca das respostas às questões inerentes em cada coração. Grandes descobertas têm sido apresentadas à humanidade e, o que é mais interessante, é que quanto mais se conhece mais se percebe que o universo não subsiste por si só, mas por alguma coisa que o governa e, embora não reconheçam que é Deus, já se sabe que não é por acaso.

Ter conhecimento é fundamental. Só realizamos alguma coisa adequadamente se for através de um conhecimento específico acerca do objeto em questão, por exemplo: uma pessoa não pode construir uma casa só com informações teóricas e subjetivas, mas sim com conhecimento específico e prático acerca de uma construção. Para que isto fique mais claro é importante fazermos uma distinção entre “Conhecimento de” e “Informação acerca de”.

Informação ou Conhecimento?

Pode até parecer redundante, mas não é. Ter informação acerca de alguém ou de alguma coisa não é o mesmo que conhecê-lo. No processo para se obter o conhecimento informação é fundamental, mas veja que a informação não é tudo, ela é apenas uma ponte, uma transição da ignorância para o saber de fato ou o conhecimento. Embora a informação não seja o todo do saber, sem ela não podemos transpor o abismo da ignorância. Sendo assim, o conhecimento representa a união das informações, que por sua vez nos conduz a exercícios práticos das próprias informações, produzindo erros e acertos, correções e transformações, o que, por fim, estabelece o saber de fato, ou o conhecimento. Portanto, o conhecimento é algo mais completo embora não conclusivo, por um simples motivo, a saber, estamos sempre mudando.

Trazendo esta reflexão para o âmbito dos relacionamentos, podemos concluir que sem o conhecimento não poderemos nos relacionar de forma adequada com nada e nem com ninguém. Tendo em vista que bons relacionamentos estão sempre embasados na busca do bem-estar mútuo, procurando fazer o que agrada o outro, é importante que tenhamos um conhecimento adequado da pessoa ou pessoas em questão. Na prática, isto funciona mais ou menos assim: você pode dizer que conhece de fato ao Presidente Luis Inácio Lula da Silva? Acredito que não! Embora ele talvez seja a figura mais popular do nosso país e, até mesmo, uma das figuras mais populares do mundo atualmente, não podemos dizer, categoricamente, que o conhecemos. Podemos ter informações acerca dele como: que é corintiano, que é pernambucano, etc. Mas, só estas informações não são suficientes para decretar que o conheçamos, ainda faltam elementos. Por outro lado, posso dizer que conheço a minha esposa, o meu filho, o meu irmão, um amigo muito próximo, justamente porque além de ter informações acerca destas pessoas, estou envolvido diariamente, emocionalmente e/ou experimentalmente com elas. Talvez o grande exemplo disto seja o que expressou Jó quando disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem.” Jó 42.5.

Concluímos que para que se atinja o objetivo pretendido de agradar alguém e, portanto, se relacionar adequadamente com ela, é necessário conhecê-la e não simplesmente percebê-la.

A importância do conhecimento de Deus

O servo de Deus tem muitos desafios e anseios. Como desafios, podemos destacar a necessidade de vivermos em santidade em uma sociedade tão vil; viver na prática da verdade e da justiça em tempos em que tais atributos têm sido negligenciados; formar uma família e conduzi-la nos caminhos do Senhor, dentre outras coisas. Quanto aos anseios, queremos casa própria; carro; emprego estável; bons amigos; igreja vibrante, e assim por diante. Entretanto, existe um anseio que também é um desafio, ou seja, para o servo de Deus na há nada mais importante do que se relacionar com o seu Senhor e, isto, de forma plena e verdadeira. Expressar o mesmo que o salmista no salmo 42.1,2 expressou é fundamental e, ao mesmo tempo, desafiador, a saber, “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”.

No entanto, para que o nosso relacionamento com Deus se dê de forma adequada, verdadeira e prazerosa é fundamental buscarmos o Seu conhecimento. E, embora isto possa ser plenamente inatingível agora, é exatamente isto que devemos buscar, pois, ainda que a plenitude do conhecimento de Deus se dê tão somente quando estivermos com Ele, em sua Glória, o que nos cabe saber hoje Ele nos revelou, justamente, para que nos relacionemos adequadamente consigo.

Revelação

Segundo Alister E. MacGrath, professor de teologia histórica na Universidade de Oxford, a Revelação é o conceito cristão de que Deus opta por se fazer conhecido e torna isso possível por intermédio de sua auto-revelação na natureza e na história. E, ainda, segundo Hugh Ross Mackintosh, grande teólogo escocês, um conhecimento de Deus que seja baseado na religião, onde quer que venha a existir, acontece sempre por intermédio da revelação; do contrário defenderíamos a posição inacreditável de que o ser humano é capaz de conhecer a Deus, sem que haja o desejo divino de revelar-se.

Cremos em um Deus que se revela ou que se apresenta como de fato Ele é. Em Êxodo 3.14,15 está o relato de como Deus se apresenta de forma pessoal e profunda. Ele diz o Seu nome e todo o significado que este nome tem. Os profetas do Senhor também falaram acerca de Deus e de como ele deveria ser conhecido: Is 6.1-5; 40.12 – 31; Jr 32. 26,27; 33.1,2; Jl 2. 12,13; Hc 3. Então, é importante sabermos que todo conhecimento acerca de Deus é precedido por revelação. Se Deus não se revelasse jamais saberíamos de sua existência.

Diante disto, podemos entender que, embora o nosso Deus seja imenso e insondável em todo o seu ser e sabedoria, Ele pode ser conhecido. Vejamos como:

Revelação Geral ou Teologia Natural

O apóstolo Paulo escrevendo aos crentes em Roma, logo no início, já salienta que a humanidade não tem desculpa quanto ao conhecimento de Deus, tendo em vista a revelação geral. Ele diz: "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela justiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis..." Rm 1.18-20. Paulo ressalta aqui a realidade e a universalidade da revelação divina, que é eterna e inteligivelmente perceptível. No versículo 21 Paulo usa uma frase que salienta que a humanidade não somente tem a oportunidade de conhecer a Deus por meio da revelação geral, mas também que essa revelação produz um verdadeiro conhecimento, a saber, tendo conhecimento de Deus.

Na história da igreja o tema sobre a revelação geral sempre teve um lugar de destaque. Tomaz de Aquino, um dos que mais contribuíram para o debate acerca do tema, entendia que se Deus criou o mundo, logo é possível encontrar sua “assinatura” em meio à sua criação. Para Tomaz de Aquino a meditação sobre as obras de Deus nos torna capazes, ao menos até certo ponto, de admirar e refletir a respeito da sabedoria divina. Assim, podemos inferir a sabedoria de Deus a partir da reflexão sobre suas obras. Essa reflexão nos conduz à admiração do sublime poder divino e, por conseguinte, inspira no coração humano uma reverencia por Deus. Se a excelência, a beleza e a beleza da criação é algo tão fascinante para a mente humana, Deus, a própria fonte da excelência e bondade (quando comparado com os vestígios de excelência encontrados na criação) atrairá plenamente, para si mesmo, essas mentes fascinadas.

Outro nome a ser considerado no estudo desse tema é, sem dúvida alguma, João Calvino. Calvino inicia o primeiro volume de suas Institutas tratando do tema. Ele afirma que é possível discernir um conhecimento geral de Deus por toda a criação – na humanidade, na natureza e no processo histórico em si. As duas razões principais desse conhecimento são identificadas:

1. Senso do Divino ou Semente da Religião – Deus dotou os seres humanos com um senso ou uma percepção inerentes acerca da existência de Si mesmo. É como se houvesse algo sobre Deus gravado no coração de cada ser humano.

2. A segunda razão subjaz na experiência e na reflexão sobre a ordem natural do mundo – O fato de ser Deus o criador, ao lado de um reconhecimento da justiça e da sabedoria divinas, pode ser obtido a partir da observação da criação, que atinge o seu ápice com a humanidade.

Calvino alega que qualquer pessoa, crente ou não, por intermédio de uma reflexão inteligente e racional acerca da criação, deve ser capaz de alcançar a noção de Deus. A idéia é que a criação é como um “teatro” ou um “espelho” que exibe a presença, a natureza e os atributos de Deus. Embora invisível e incompreensível, Deus quer ser conhecido sob a forma das coisas visíveis que criou, assumindo a roupagem da criação.

Revelação Especial

A Confissão de fé de Westminster nos traz uma excelente definição sobre este assunto, ela diz: "Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo" (Confissão de Fé de Westminster, 1:1)

A verdade é que, embora a criação anuncie e proclame a glória de Deus, por causa do pecado e corrupção humana, aprouve a Deus se revelar de uma forma mais objetiva e especial a sua igreja.

Assim, Deus preparou um povo, Israel, no Antigo Testamento, e a igreja, no Novo, para revelar-lhe objetivamente o conhecimento necessário à salvação. De forma direta e sobrenatural, por meio do seu Espírito, através de revelação direta, teofanias, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de servos escolhidos e, principalmente, pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à igreja, no curso dos séculos, as verda¬des salutares à salvação, as quais, de outro modo, seriam inaces¬sí¬veis ao homem. Neste sentido, o escritor aos Hebreus nos diz: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1:1-2); e ainda, Paulo escrevendo aos Gálatas elucida-nos: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:11-12).


Portanto, vimos que há uma diferença entre conhecer alguém e apenas ter informações com relação a elas; vimos também, que o conhecimento de Deus é fundamental e deve ser almejado por todos quantos crêem nEle e o amam; vimos que o conhecimento de Deus é possível, pois, Ele é o Deus que se revela a todos os homens de maneira geral, mas, principalmente, ao seu povo de uma forma especial. Então, se reconhecemos a sua importância e a sua acessibilidade devemos nos lançar à busca deste sublime conhecimento.
Pequena dica:

"Ore a Deus pedindo-lhe que conceda de Seu conhecimento; olhe para criação e medite sobre a grandeza, sabedoria e poder de Deus; tenha apego pela Palavra de Deus, não somente lendo por ler, mas, busque enxergar os princípios dela em sua vida."

Que Deus nos preencha com o seu conhecimento!
Rev. Góes

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